quinta-feira, 10 de março de 2011

... Vidas cruzadas





Quando acordei o P estava sentado ao meu lado a ler o diário, o rosto sério, fiquei sem saber o que fazer, a mãe dele revelava uma situação que eu não sabia se ele tinha conhecimento , saber através daquele diário não era a melhor maneira e eu já estava a ficar com remorsos por o ter lido … ele parou de ler sem se aperceber que eu já estava acordada… olhei para a página aberta do diário … era mais um texto intimo da sua mãe … ele não teve coragem de prosseguir… o que queria dizer que ele ainda não tinha lido o principal segredo… sentiu se constrangido, há uma tendência dos filhos pensarem que os pais são assexuados …
Pouco depois de o P nascer, o Pai dele, o Sr, administrador , passou a dormir em quarto separado, depois daquela cena na casa de banho a mãe do P saiu de casa procurou refugio na casa dos pais que lhe foi recusado, era uma mulher casada o seu lugar era ao pé o marido, menina de boas famílias que foi educada para ser mãe e esposa, não tinha meios de subsistência, nem sabia fazer nada e foi demasiado moldada para ser rebelde o suficiente para conseguir sobreviver numa época de tantos preconceitos em que só os homens é que mandavam e mais complicado seria sendo mulher separada. Resignou se e voltou para casa, continuando com o casamento de faz de conta , vegetando , mas aquele desejo que sentiu pelo marido na casa de banho atormentava a , principalmente durante a noite, ela não tinha com quem trocar impressões, as mulheres não falavam de sexo, e toda a sua ansia era descarregada neste diário o P desistiu de ler justamente nesta parte…

“ Ontem senti me atraente, fiz questão de usar um vestido um pouco ousado , ele estava muito elegante naquele fato preto, olhou para mim com admiração mas limitou se a dar –me um beijo no rosto , raras vezes saiamos juntos só mesmo em ocasiões especiais como esta… o casamento da minha prima…quando chegamos todos nos olhavam com admiração, juntos éramos um casal bonito, e invejado... mal eles sabiam que era tudo aparência, mas naquele dia senti me feliz ele estava ao meu lado e tentava ser carinhoso, ele sempre foi honesto comigo, nunca me escondeu a sua historia com Dona L. e sempre me disse para eu procurar alguém que me fizesse feliz mas é dele que eu gosto, não consigo me interessar por mais ninguém. Bebi um pouco… mais que o normal, sentia me alegre e bem disposta … o cunhado da minha prima aproximou se de mim e convidou me para dançar não hesitei… ele vive em Itália … veio ao casamento do irmão … é um bom vivant , muito charmoso, estivemos o dia todo a dançar e a conversar , meu marido conseguiu ficar ocupado com o meu pai… negócios … e eu deixei me inebriar pelo italiano, senti-me desejada … permiti que certos toques discretos acontecessem, senti me arder por dentro, um vulcão pronto a explodir, senti vontade de ser possuída por aquele homem… perdi a vergonha… a bebida ajudou e provoquei o … desafiei o a encontrar se comigo num dos quartos da mansão … a festa do casamento foi no jardim… ainda estou a tremer de todas as sensações que senti... desconhecia tal prazer , alheia à festa de casamento fui lhe pedindo mais e mais… até à exaustão… Hoje estou confusa, deliciada com a memoria do que senti... da maneira como fui olhada... do corpo de homem que pude apreciar e tocar sem pudores nem sei como consegui e coro só de pensar e ao mesmo tempo com remorsos de ter sido com aquela pessoa pela qual não sinto nada. Já me ligou a marcar encontro num salão de chá, não sei se vou conseguir olhar para a cara dele… "

Continuaram a encontrarem se durante uma semana, entretanto ele regressou a Itália, passados dois meses ela descobriu que estava grávida… afinal a irmã do P não era filha do Sr. Administrador… comecei a entender a frieza dela no funeral da mãe em relação ao Sr. Administrador, apesar de ele ter assumido a paternidade com a consciência que não era filha dele. Aos dezasseis anos ela decidiu viver com o pai biológico e continuar os estudos em Itália.
Espreguicei –me despertando o P dos seus pensamentos queixou se que tinha fome … ri me ele dependia de mim para comer… a mão ligada limitava lhes os movimentos… enquanto preparava o almoço ia pensando na maneira de descobrir se ele sabia desta história...